sábado, 25 de maio de 2013

O Doente Viajante


 Não, é doente mesmo. No caso eu. Já comentei em algum lugar que eu tenho doença de Crohn, certo? Como se não bastasse, de milhões de coisas que eu podia querer na vida tipo casa, comida, roupa lavada, uma Ferrari ou um marido eu fui querer viajar. E ser doente e viajar ao mesmo tempo não é nada fácil. Um dia eu conto como achei minha doença e como consegui viajar (ou não). Pulei essa postagem na frente porque acho que pode ser útil pra muita gente.
A idéia aqui é reunir toda a informação que eu consegui (e que não é pouca e deu mais trabalho do que deveria) enquanto tentava sair do Brasil. E importante: Avise na alfândega que você está com medicamentos! Pode evitar muitos problemas. Por partes:

Tomo remédios que não precisam de receita médica: Filho! Qualé a tua preocupação? Você pode deixar para comprar lá ou basta levar na bagagem de mão. Só lembra de conferir se no país de destino também não precisa de receita. E acredite, isso dá muito trabalho porque você vai ter que procurar no site da alfândega e/ou do Ministério da Saúde local. Um conselho pra vida? Finge que você precisa de receita e pule para o próximo item.

Meu remédio precisa de receita, mas é baratinho, tô com ele todo aqui e não contem nenhuma droga ou material animal ou vegetal: É, só vale se se encaixar nisso tudo aí. Mas é bem fácil. A enorme maioria dos países permite que você entre com seu remédio portando receita médica. Recomenda-se, mas não é obrigatório (mas todo mundo sabe que você vai acabar obedecendo, né?), que você tenha uma receita traduzida para a língua local, que o medicamento esteja na embalagem original e que ele seja levado na bagagem de mão.

Meu remédio precisa de receita e é muito caro. Recebo do governo e não contem nenhuma droga ou material animal ou vegetal:  Aí já tá apertando. Se você recebe medicamento do governo já deve saber, mas para quem não sabe, o SUS só entrega medicamento suficiente para um mês. Se sua viagem dura menos que isso, beleza. Se dura dois dá pra pedir um adiantamento numa boa. Se dura três, eles te arrumam, mas só se o medicamento for comprado pela Secretaria de Saúde. Se for pelo Ministério você vai ter que ligar lá pra ver. Passou disso você vai ter que enviar pelo correio. Porém nem todos os países aceitam medicamento pelo correio. União Européia, sinto muito, mas sem chance. EUA e Austrália permitem, mas você vai precisar de uma receita de um médico local também. Se você quiser muito a União Européia, recomendo entrar na justiça para conseguir a dose para toda a sua viagem com o governo daqui. Mas não sei se dá certo porque nunca tentei.

Meu remédio precisa de receita e é muito caro. Recebo do governo e não contem nenhuma droga ou material animal ou vegetal, mas precisa de transporte refrigerado: Esse sou eu! ÊÊÊÊ! Já deu pra ver que tô ferrada, né? E se você tá comigo, tamo junto (Ah, vá!). Há esperança. Primeiro, tudo que está na parte de cima vale aqui também. Se você conseguir todo o estoque necessário para a sua viagem vai precisar de no máximo dois dias de refrigeração (tipo se você for pro Japão) e aí eu descobri uma maravilha gelada chamada Ice Foam. É um gelo reciclável feito de um polímero que dura até 3 dias, comprovado cientificamente. Se você estiver interessado, é só ligar na Polar Técnica (joga no Google) que é a fabricante e te passa o melhor produto para atender às suas necessidades e informa onde comprar. Nossa, Ana, você tá fazendo propaganda! Então não liga lá, bobo! Vê se tem outra opção. E não é caro, tá? O gelo maior custa R$ 8,05. E não recebi nada pra falar deles. Nem sabem que tô falando. Já deu pra ver que essa também é uma opção se precisar mandar pelo correio, né? Eu liguei para 56768980 empresas de transporte e nenhuma pode transportar as coisas refrigeradas para pessoas físicas, apenas jurídicas e encomendas grandes. Não adianta pegar o CNPJ da padaria do seu tio e tentar enviar uma caixinha pra você. O jeito foi investir no Ice Foam e procurar a empresa que entregue mais rápido. Nada de Fedex ou DHL. Elas têm encomenda demais e você vai ter que ficar na fila. Encontre uma empresa da sua cidade que possa despachar em um vôo comercial para você. Assim o remédio chega quase no mesmo prazo que chegaria se você mesmo estivesse levando.

Update: Acabou que testei a Fedex e a DHL e cheguei à conclusão de que a melhor empresa para o serviço são os Correios. Sim, ele mesmo, brasileiro, que tem em qualquer esquina. Meu pai colocava 8 ice foam na caixa de isopor com 3 caixas de remédio e em mais ou menos 5 dias chegava lá em casa pra mim. Sobrevivi, então acho que é uma boa opção.

Meu remédio contém drogas e material animal ou vegetal: Tá mais ferrado que eu tadinho. O procedimento é o mesmo que nas partes acima, só que você vai precisar de um documento a mais: a licença de importação. E aí tem que entrar em contato com o Ministério da Saúde local. Eu nunca precisei perguntar sobre essa parte, mas as coisas que já perguntei eles são super prestativos na maioria dos países.

Se você não se encaixa em nenhuma destas categorias, sinto muito. De verdade. O aperto que eu passei já foi bem triste e se não resolvi seu problema é porque o caso é grave. Mas não desiste não, tá?

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Quem sou eu?


Não, nada de filosofia! É só porque o espaço para apresentação do blogger é muito pequeno e eu acho que sou muito mais que apenas alguns caracteres, modéstia a parte.
Muito bem. Neste momento da vida estou estudando Engenharia Química e com projetos de fazer isto em Sydney na Austrália, o que me ocupa muito tempo e ainda foi a razão principal disso aqui existir. Afinal, se eu viajar mesmo, preciso enviar notícias para as pessoas que ficam e por um blog é bem mais fácil que escrever uma montanha de e-mails. Além do que, pode ser que eu aprenda coisas que valem a pena dividir.
Nasci no dia 03/03 às 15h em uma terça feira de carnaval. Não, não é zoeira. Pode conferir que era terça feira. Eu mesma falava que tinha sido 3h da manhã de brincadeira e qual não foi minha surpresa ao conferir a Certidão e ver lá 3h da tarde? Hahaha Sério que tenho problemas com o 3. Por exemplo, sou cruzeirense doente (haverá muito tempo para percebermos isto) e meu time ganhou a Tríplice Coroa em 2003!
Meu gosto pelo futebol não veio do nada. Perdi minha mãe com apenas nove anos de idade e passei a viver com dois homens. Como se não bastasse, todos os meus primos vivendo perto de mim também são homens. Meninas só na escola e em festa de família. Resultado: Sei explicar a lei do impedimento e assisti todas as temporadas de Dragon Ball. Só aprendi a me maquiar aos quinze anos, não sabia usar um absorvente até a minha primeira menstruação (talvez até a segunda), não reparo em roupas e sou incapaz de dizer se alguém pintou as unhas ou cortou a ponta dos cabelos.
Mais coisas fora do normal: meu cabelo não é liso, detesto funk, não nasci para vestidos justos, amo os clássicos da Disney, posso passar uma hora me divertindo apenas com meus pensamentos, não assisto nenhuma novela, mas sei o que acontece em todas elas, tenho um Uno amarelo e não o trocaria por uma Ferrari, mas trocaria uma noite na melhor boate do mundo por uma boa coleção de livros, não bebo absolutamente nada que contenha álcool e acredito que tenho o estranho talento de concordar com duas pessoas que discordam entre si.
Já deu pra perceber que sou esquisitona, né? Mas não pára por aí. Quando eu estava no terceiro ano do ensino médio (tempo auge da minha vida escolar, quando fui a melhor aluna do colégio, e consequentemente fundo do poço da minha vida social, porque ainda assim ninguém se lembra de mim) descobri que eu tinha Doença de Crohn. Resumindo: meus glóbulos brancos são burros e atacam meu intestino. Resultado: inflamação e muita dor. Não se preocupe, é uma doença rara e não contagiosa. É preciso uma combinação específica de genes e situação ambiente para provocar o aparecimento. Beijos, sou especial. Desde então passei por um monte de remédios e ainda uma cirurgia, mas já está tudo melhor agora. Maaas, como se não bastasse ter uma doença rara, sou intolerante ao tratamento convencional e preciso de um medicamento biológico especial. É isso que ferra com as minhas viagens e é disso que reclamarei no próximo post. Mas tem seu lado bom. Tenho direito a altas vacinas por ser portadora de doença crônica. Sim, crônica, sem cura.
Apesar de tudo, não tenho muito o que reclamar da vida. Tenho casa, comida e roupa lavada. Parece que vou conseguir me formar na faculdade. Minha saúde está razoavelmente bem controlada. Tenho uma família enorme e maravilhosa, de verdade. Um monte de amigos espalhados em uma porrada de cidades, o que me dá bastante opção de passeio e embora às vezes a gente tenha nossos problemas, eles me fazem muito feliz. Se tudo der certo e eu conseguir escrever aqui de vez em quando, vocês vão poder comprovar tudo isso.
Espero que as bobagens que passam por essa minha cabeça oca sejam úteis para alguém...