sexta-feira, 8 de novembro de 2013

O fundo do U

Muito bem, Fada Madrinha, já pode aparecer agora

Alooou meu povo,
  Hoje eu já tinha colocado no meu planejamento falar mais sobre a Tailândia e tals, mas chegou uma notícia ontem que mudou todos os meus planos. Não só sobre o que eu ia escrever hoje. Eu explico.
  Minha prima vai se casar. Sim, isso é uma coisa boa. E não uma prima qualquer, uma que me ensinou a desenhar, que brincou de boneca comigo, que fez o mesmo curso que eu (Mesmo eu estando no certo e ela no errado), que me faz companhia nas festas, que eu ajudo na decoração de Natal, que inventa as nossa fantasias no Carnaval e que curte o tédio nas tardes de Jabó. Tá, menina, então por que cargas d'água a foto no post é essa Cinderela deprimida? Porque possivelmente eu não estarei lá no dia.
  A data não interessa porque não queremos penetra na festa, basta que vocês saibam que é tarde demais para que valha a pena eu ir e voltar e cedo demais para que o CNPQ me deixe ir e ficar. Eu estou tentando, mas é difícil.
  E você tá nessa chatice toda por que vai perder um casamento só? Não. Vou perder toda a emoção dos preparativos, que se eu estivesse no Brasil com certeza participaria. Vou perder a primeira despedida de solteira e o primeiro chá de panela da família. E aí, na minha tristeza, todas as outras coisas que eu perdi resolveram despencar na minha cabeça como uma bigorna cai em cima de um cartoon qualquer. Beijo, Clarice.
  Eu perdi os aniversários das minhas duas avós, de 70 e 90 anos. Perdi o aniversário de 15 anos de Loreninha e o de 18 de Nayara. Perdi a Libertadores do Atlético (Tá, esse foi bom) e o Tri Campeonato Brasileiro do Cruzeiro. Vou perder metade da Copa. E só Deus sabe o que mais.
  Se eu aprendi alguma coisa sobre o lado ruim do intercâmbio foi isso: A gente sempre acha que a saudade vai ser o mais difícil. E ela não é fácil, mas é administrável. A tecnologia ajuda bastante. Você sempre traz lembranças das pessoas que gosta e em uma emergência sempre é possível uma visita. E no final você sabe que vai ver todo mundo de novo. O que dói mesmo são os momentos que você perde, porque esses não voltam mais.
  As pessoas fazem aniversários todos os anos, mas alguns são especialmente marcantes e se você não estava lá, sinto muito. Eu espero que o Cruzeiro seja campeão várias vezes, mas ainda assim, eu queria estar lá pra comemorar de novo depois de 10 anos. Espera-se que Laís não se case em outro dia além desse. E o Atlético, bem, esse ano já foi um aborto da natureza, se tudo der certo nunca mais acontece uma dessas.
  Se eu estou arrependida de ter vindo? De forma alguma. Mas isso não faz com que eu me sinta melhor. É como se eu tivesse batido meu carro lotado e todos tivessem sobrevivido apesar da perda total. Estou muito feliz por ter salvado todos, mas não consigo evitar de estar triste por ter perdido o carro. O que eu ganhei foi uma oportunidade única, aprendo coisas novas todos os dias. Mas não posso negar que gostaria de ter estado com as pessoas que eu amo nos momentos importantes para elas. Infelizmente, não se pode ter tudo na vida e quando você viaja essa realidade samba na sua cara. De salto alto.
  Aqui na Austrália eles dizem que sua felicidade no intercâmbio é um U. Ela começa lá em cima, tudo é novidade, você está fazendo novos amigos, a faculdade está fácil, só alegria! Aí a vida começa a entrar na rotina, as provas chegam e você começa a sentir falta da vida que tinha. Sua felicidade vai baixando até o fundo do U. Aí seus amigos de fora aparecem para ajudar. Você percebe que vai sobreviver às provas finais e que o skype e as pessoas que você tem aqui são bastante para que você sobreviva mais alguns meses até chegar em casa.
  Ontem eu ainda estava bem pra cima no U. Hoje eu estou no fundo. Mas esse blog não se chama Lágrimas e Bobagens Parecidas. O dia está lindo lá fora, a praia me espera para uma caminhada, eu ainda tenho o sexto maior país do mundo e mais alguns vizinhos para explorar. Tenho dois exames finais e uma pesquisa para terminar. Preciso convencer um governo a alterar a vigência da minha bolsa e uma universidade estrangeira a adiantar minhas provas. E se eu quero chegar a tempo do casamento preciso correr.
 Alô, Fada Madrinha, você já está dispensada! Já estou subindo o U de novo! Brasil, me espere na outra ponta! E fique esperto porque eu não pretendo demorar.
Só pra vocês não ficarem com saudades da minha bela figura. Haha