sexta-feira, 7 de junho de 2013

Como eu me tornei cruzeirense


Tem gente que acha que o amor por um time de futebol é irracional. Mas qual amor não é? Que não traz nenhuma vantagem para o torcedor. Mas o amor bonito não é aquele que não espera nada em troca? Quem dera todos os amores fossem assim. Essa é minha pequena história de amor com o Cruzeiro Esporte Clube.
Na verdade, acho que eu já nasci cruzeirense porque bebê nunca pode escolher as coisas e os pais que deduzem tudo que ele quer. Sendo meu pai cruzeirense, possivelmente deduzia-se que eu também o era. Porém nem sempre foi assim. Eu tive uma fase atleticana na vida da qual me orgulho muito. Afinal, como eu poderia saber que é muito melhor o lado azul sem nunca ter ido ao lado negro da força? De qualquer forma, muita gente não acha possível uma cruzeirense apaixonada já ter vestido uma camisa alvinegra. Para quem tem curiosidade, senta que lá vem história.
Depois que pararam de deduzir minhas opiniões praticamente não mudou nada porque de futebol eu só sabia o nome. Minha vida era toda saias, vestidos, maquiagem e princesas Disney. Mas meus melhores amigos na época eram atleticanos e a bobinha aqui querendo se enturmar cismou de ser também. Se eles torcessem para o 15 de Piracicaba eu torceria também. Foi nessa época que um tio me deu uma camisa do Piu-piu uniformizado com uma camisa do Atlético só pra irritar o meu pai (Nunca tive uma oficial). Eu gostava do Piu-piu. E meu pai  nem ligava de ter uma filha atleticana desde que o menino da casa continuasse cruzeirense. Então eu saía com minha camisa por aí sem problema nenhum.
Depois que eu vi que tinha amigos cruzeirenses também, resolvi tentar agradar todo mundo (como sempre) e torcia para os dois. Sinceramente. Comemorava vitórias dos dois lados. Nunca zoava ninguém. Torcia pelo empate nos clássicos e no Campeonato Mineiro torcia pro América para que ninguém pudesse zoar os coleguinhas. Um amigo me disse uma vez que isso é típico de quem não liga para futebol. Eu concordo porque eu não ligava mesmo.
As coisas começaram a mudar em 2001, quando perdi minha mãe e me vi obrigada a aprender sobre futebol para ter o que conversar com meu pai e meu irmão em casa. Finalmente aprendi como os times faziam para se classificarem e serem campeões e passei a acompanhar todas as fases do Campeonato Brasileiro. Ainda torcendo pelos dois lados, firme e forte. Mas já tinha percebido que o Cruzeiro era um negócio melhor e abandonei o empate nos clássicos.
Em 2002 acabou a brincadeira. Na época, o Brasileirão tinha uma fase de pontos corridos e então os 8 primeiros colocados se classificavam. Na última rodada da primeira fase o Cruzeiro era nono e o Atlético, sétimo colocado e já classificado, jogava contra o oitavo, no caso, o Santos. Se ambos ganhassem, como eu torcia, os dois estariam classificados e ainda poderiam ser campeões. Mas meu pai me avisou com antecedência: o Atlético vai perder de propósito, só para que o Cruzeiro não se classifique. Dito e feito. Se foi de propósito ou não, tanto faz. Na minha cabecinha de dez anos de idade o Atlético era um time ridículo e egoísta que não ajudava um companheiro de estado. Tá, o Cruzeiro teria feito o mesmo, mas convence a criança que o pai dela está mentindo. Tarde demais. Naquele dia eu desisti do 6a1o para sempre. Eu era oficialmente cruzeirense.
E acabou que, mais uma vez confirmando previsões do meu pai, o destino vingou a traição galinácea. Com a derrota o Atlético tornou-se o oitavo e foi eliminado pelo primeiro colocado, o Corinthians, no primeiro jogo do mata-mata. O Santos, que se classificou em sétimo, acabou campeão.
E como um sinal para me assegurar de minha escolha acertada, qual foi o ano seguinte? 2003! Eu estava tão decidida a ser uma cruzeirense exemplar que sabia a tabela do campeonato de cor. A classificação e a pontuação de cada um dos times. E no final meu time ganhou absolutamente tudo o que disputou! Campeonato Mineiro, Copa do Brasil e Brasileirão, tudo junto! Tríplice Coroa! Meu coração foi completamente arrebatado. E agora não larga mais.
Depois disso já passei por coisas boas e ruins com o futebol, mas não voltei nem ao menos a cogitar abandonar o Cruzeiro. Muito pelo contrário. Gostaria de poder fazer mais por ele. Não foi paixão à primeira vista. Mas o charme dos grandes amores não é a arte da conquista? Pois então. Eu fui muito bem conquistada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário