Para quem não ouviu ao vivo ou ouviu e não entendeu ou só quer uma inspiração, aí está o lendário texto da minha colação de grau:
Quando me
perguntaram pela primeira vez sobre o que eu gostaria de dizer aos ausentes,
respondi que o que eu gostaria mesmo era de perguntar se eles têm orgulho de
nós. Se sorririam ao contar para os colegas de trabalho que seu filho, primo,
irmão, sobrinho ou neto é oficialmente engenheiro químico. Se nos abraçariam
apertado quando a cerimônia acabar e fariam uma festa para comemorar nosso
primeiro emprego.
Eu sei que
tem gente que não gosta, mas um dos livros que mais me ajudou a entender
ausências foi A Culpa é das Estrelas. Não importa a história, meu foco aqui é
uma única frase que significa tanto pra mim que está na parede do meu quarto:
Alguns infinitos são maiores que outros infinitos. O próprio livro explica:
Existem infinitos números entre 0 e 1, existe 0,1; 0,11; 0,111. Mas também é
intuitivo que existem duas vezes mais números entre 0 e 2, tornando este um
infinito maior que o outro. O que a mocinha da história queria explicar era que
embora o tempo que tivemos com as pessoas que perdemos tenha sido pequeno, isso
não o impede de ter sido tão infinito quanto o que temos com aqueles que ainda
estão aqui, o que faz todo sentido.
Eu só acho
que ela esqueceu de ressaltar uma parte. Que o grande infinito que existe entre
0 e 10, por exemplo, só é assim devido aos pequenos infinitos que existem
dentro dele, como o que vai de 0 a 1. E que o intervalo existente entre 0 e 1
não faz parte de um único infinito. Ele está entre -2 e 4, entre -100 e 15 e
muitos e muitos outros. Assim como partindo-se do infinito que vai entre 0 e 1
é impossível formar um que vá de -10 a -2 ou de 3 a 200.
Para
explicar eu usarei o meu próprio exemplo. Eu tive um pequeno infinito com a
minha mãe, muito menor do que eu gostaria. Mas o infinito dela começou antes deste
pequeno intervalo, assim como o meu continua depois que o dela terminou. E além
do meu, minha mãe tocou muitos e muitos outros infinitos, alguns que eu nunca
nem mesmo conheci e alguns que ainda fazem parte do meu próprio infinito. E
pelo simples fato de termos convivido durante esse infinitinho ela eliminou
milhares de possibilidades de pessoas que eu poderia ter me tornado.
Não importa
por quanto tempo, o toque dela influenciou de alguma forma o que somos hoje e
mesmo que nosso infinito tenha sido pequeno demais para que ela me dissesse
pessoalmente qual caminho seguir ela deixou muitos outros infinitos tocados que
completaram o meu e que tenho certeza que me ajudaram a chegar até o ponto
exato que ela gostaria.
Por isso no
fim eu decidi falar de matemática. Porque é o que os engenheiros fazem. E é o
que fomos guiados para fazer, por aqueles que vocês vêem aqui e por aqueles que
vocês não vêem. E se tem algo que aprendemos nesse curso foi que os números
podem não ser exatos, mas também não mentem. E eles indicam que minha pergunta inicial
era das mais bobas. Certo como dois mais dois são quatro, hoje, onde quer que
estejam, saiba que cada pedacinho do seu infinito está infinitamente orgulhoso de
você.