terça-feira, 4 de agosto de 2015

Homenagem aos Ausentes EQ UFMG 2014/2


Para quem não ouviu ao vivo ou ouviu e não entendeu ou só quer uma inspiração, aí está o lendário texto da minha colação de grau:

Quando me perguntaram pela primeira vez sobre o que eu gostaria de dizer aos ausentes, respondi que o que eu gostaria mesmo era de perguntar se eles têm orgulho de nós. Se sorririam ao contar para os colegas de trabalho que seu filho, primo, irmão, sobrinho ou neto é oficialmente engenheiro químico. Se nos abraçariam apertado quando a cerimônia acabar e fariam uma festa para comemorar nosso primeiro emprego.
Eu sei que tem gente que não gosta, mas um dos livros que mais me ajudou a entender ausências foi A Culpa é das Estrelas. Não importa a história, meu foco aqui é uma única frase que significa tanto pra mim que está na parede do meu quarto: Alguns infinitos são maiores que outros infinitos. O próprio livro explica: Existem infinitos números entre 0 e 1, existe 0,1; 0,11; 0,111. Mas também é intuitivo que existem duas vezes mais números entre 0 e 2, tornando este um infinito maior que o outro. O que a mocinha da história queria explicar era que embora o tempo que tivemos com as pessoas que perdemos tenha sido pequeno, isso não o impede de ter sido tão infinito quanto o que temos com aqueles que ainda estão aqui, o que faz todo sentido.
Eu só acho que ela esqueceu de ressaltar uma parte. Que o grande infinito que existe entre 0 e 10, por exemplo, só é assim devido aos pequenos infinitos que existem dentro dele, como o que vai de 0 a 1. E que o intervalo existente entre 0 e 1 não faz parte de um único infinito. Ele está entre -2 e 4, entre -100 e 15 e muitos e muitos outros. Assim como partindo-se do infinito que vai entre 0 e 1 é impossível formar um que vá de -10 a -2 ou de 3 a 200.
Para explicar eu usarei o meu próprio exemplo. Eu tive um pequeno infinito com a minha mãe, muito menor do que eu gostaria. Mas o infinito dela começou antes deste pequeno intervalo, assim como o meu continua depois que o dela terminou. E além do meu, minha mãe tocou muitos e muitos outros infinitos, alguns que eu nunca nem mesmo conheci e alguns que ainda fazem parte do meu próprio infinito. E pelo simples fato de termos convivido durante esse infinitinho ela eliminou milhares de possibilidades de pessoas que eu poderia ter me tornado.
Não importa por quanto tempo, o toque dela influenciou de alguma forma o que somos hoje e mesmo que nosso infinito tenha sido pequeno demais para que ela me dissesse pessoalmente qual caminho seguir ela deixou muitos outros infinitos tocados que completaram o meu e que tenho certeza que me ajudaram a chegar até o ponto exato que ela gostaria.
Por isso no fim eu decidi falar de matemática. Porque é o que os engenheiros fazem. E é o que fomos guiados para fazer, por aqueles que vocês vêem aqui e por aqueles que vocês não vêem. E se tem algo que aprendemos nesse curso foi que os números podem não ser exatos, mas também não mentem. E eles indicam que minha pergunta inicial era das mais bobas. Certo como dois mais dois são quatro, hoje, onde quer que estejam, saiba que cada pedacinho do seu infinito está infinitamente orgulhoso de você.


Um comentário:

  1. Que texto lindo! E quando a gente entende isso, que o que importa são os infinitos de cada momento, e não a quantidade de infinitos, os pequenos momentos se tornam cada vez mais especiais!

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